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Problemas bucais podem influenciar o desempenho de atletas

A presença de um cirurgião-dentista nas equipes médicas de clubes e eventos esportivos pode ser a garantia de uma carreira de sucesso

A saúde de um atleta é de fundamental impor-tância para que ele tenha um bom desempenho em sua carreira. Não é à toa que todos os clubes – sejam eles de futebol, basquete ou judô – possuem uma equipe médica responsável por seus atletas. 

O mesmo se pode dizer com relação à saúde bucal. Ela também é imprescindível para que os esportistas apresentem um bom desempenho. Uma simples dor de dente causa tanto descon-forto que pode fazer com que o atleta perca a concentração e diminua seu rendimento. 

A saúde bucal e o atleta

A importância da saúde bucal para um bom desempenho do esportista está relacionada ao fato dos problemas bucais influenciarem diretamente outros problemas de saúde, como os respiratórios e circulatórios. 

Um problema ortodôntico pode levar a uma respiração bucal, que é completamente inapropriada a um atleta. Pesquisas realizadas pela Associação Brasileira de Odontologia Desportiva (Abrodesp) mostram que um atleta com respiração bucal apresenta uma queda de 21% em seu rendimento físico. Quantos atletas já não devem ter sido cortados, ou ficaram com sua carreira comprometida, devido a problemas ortodônticos não tratados? 

O jogador Ronaldo Nazário é um exemplo disso. O maior artilheiro da seleção brasileira em Copas do Mundo e atual jogador do Milan, na Itália, quase foi dispensado de seu primeiro clube – o São Cristóvão do RJ– por alegarem uma falta de fôlego. Para a sorte do craque, a equipe médica do São Cristóvão contava com um cirurgião-dentista que viu a enorme falha ortodôntica que o atleta possuía, além de dois canais infeccionados.

Além de ser craque, teve sorte...

Infelizmente, nem todos têm a mesma sorte de Ronaldo. O cirurgião-dentista não é um membro freqüente nas equipes médicas. Os profissionais de odontologia só são procurados em casos mais graves, como de lesões bucais.

Um tratamento diferenciado

Hoje, embora ainda não seja uma especialidade reconhecida pelo CFO e nem seja uma disciplina presente nas grades curriculares de cursos de Odontologia, é possível encontrar cursos de Especialização oferecidos por diversas Escolas, Faculdades e Centros de Estudo. 

O cirurgião-dentista que trabalha com atletas deve levar em consideração que é necessário um tratamento diferenciado. Todos os praticantes de esportes estão sujeitos a problemas que seriam mais raros em outras pessoas. Por isso, é preciso tomar alguns cuidados.

Um dos pontos que o profissional de Odon-tologia Desportiva deve tomar bastante cuidado é com relação às restaurações. Como os atletas estão mais suscetíveis a choques e traumas durante a atividade esportiva, não é recomendado realizar res-taurações metálicas. É melhor utilizar um material que não seja tão duro, como a resina. Assim, em caso de algum acidente, somente a restauração se quebraria, não afetando a integridade do dente. 

Também é necessário que o profissional de Odontologia Desportiva fique muito atento aos medicamentos utilizados e receitados. Eles não devem conter nenhuma substância que possa prejudicar o atleta no exame antidoping. 

Prevenir é melhor do que remediar

A Odontologia Desportiva não é muito reconhecida no Brasil, mas é um campo que tem crescido muito nos últimos anos. Infelizmente, muitos ainda consideram a saúde bucal como algo à parte, que não merece tanta atenção quanto o condicionamento físico ou a alimentação do atleta.

Para que esse ramo específico da Odontologia continue crescendo e mostrando sua importância junto às atividades esportivas, é preciso que os clubes e associações esportivas enxerguem as vantagens que há em se ter um cirurgião-dentista junto à equipe médica.

Além de São Paulo, local onde a Odontologia Desportiva é bastante freqüente, também são encontrados bons exemplos de sua aplicação em outras partes do Brasil. Em Minas Gerais, por exemplo, os dois principais clubes de futebol da capital – Cruzeiro e Atlético Mineiro – apresentam cirurgiões-dentistas em sua equipe médica há bastante tempo. Eles são responsáveis pelo atendimento de todos os atletas, da equipe profissional e inclusive das categorias de base, visando uma formação de esportistas mais saudáveis. 

Por outro lado, o Minas Tênis Clube, único centro esportivo de Belo Horizonte voltado para outro esporte que não seja o futebol, apesar de possuir um Departamento de Medicina Esportiva muito bem estruturado, ainda não conta com um profissional de Odontologia entre sua equipe. 

Muitos clubes não conseguem enxergar que um trabalho preventivo pode trazer benefícios tanto para o atleta quanto para o próprio clube. Além de melhorar o desempenho dos atletas em competições, o trabalho preventivo apresenta um custo muito menor. Um clube gasta com tratamento bucal para seus atletas uma quantia quinhentas vezes maior do que a que gastaria com medidas preventivas. 

Um dos maiores gastos com problemas bucais é o tratamento de lesões provenientes de colisões e quedas. O número dessas lesões poderia diminuir drasticamente com uma simples medida: a utilização de protetores bucais.

Lesões Bucais

Os problemas bucais causados por impactos físicos são muito comuns no meio esportivo, principalmente entre os praticantes de esportes radicais e competições com alto impacto, como o judô e o próprio futebol. Não são poucos os casos em que é necessária uma abordagem cirúrgica. 

Uma das soluções para prevenir as lesões bucais seria a utilização de protetores. Um estudo realizado pela Academia Norte-Americana de Odontologia Desportiva mostrou que o uso de protetores bucais durante a prática esportiva pode reduzir em até 80% o risco de perdas dentárias.

Existem três tipos de protetores bucais: os pré-fabricados (encontrados em tamanho P, M e G), os termoplásticos (também pré-fabricados, mas que se adaptam melhor à arcada de cada jogador com a ajuda de água quente) e os confeccio-nados pelo dentista (fabricados a partir da moldagem da arcada dentária de cada atleta). Todos os protetores bucais apresen-tam durabilidade de um ano, devendo ser lavados em água corrente após o uso e armazenados em estojo próprio.

Infelizmente, nem todos os atletas são adeptos dos protetores bucais, alguns dizem que sua utilização causa falta de ar. No Brasil, ele só é obrigatório na prática de boxe e não costuma ser utilizado em outras atividades esportivas.

Verdade ou não sobre a questão de causar incômodo e falta de ar, a seleção brasileira de futebol feminino utilizou protetores bucais durante os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e não apresentou problemas, tanto que as atletas saíram de Atenas como vice-campeãs. 

Experiência de sucesso

A Lei a favor do esporte

Outro ponto importante na Odontologia Desportiva é com relação à presença de um cirurgião-dentista nas competições esportivas. É muito importante que haja um profissional de odontologia nos eventos para prestar os primeiros socorros em casos de lesões bucais.

É pensando nisso que tramita no Congresso Nacional um projeto de Lei que obriga a presença de um profissional especializado em Odontologia Desportiva em todas as competições. 

O projeto número 5391/2005 – idealizado pela ABO Nacional – foi apresentado à Câmara dos Deputados pelo deputado federal Gilmar Machado (PT-MG) em 2005. No dia 03 de fevereiro deste ano, o projeto havia sido arquivado, mas o deputado Gilmar Machado apresentou um requerimento solicitando o desarqui-vamento da proposição no dia 26 do mesmo mês.

A aprovação desse projeto represen-taria uma grande vitória para a classe odontológica e seria de extrema im-portância para o Brasil, ainda mais com o Rio de Janeiro sendo sede do Pan-Americano deste ano. Seria uma ma-neira do Brasil mostrar em um evento mundial que se preocupa, não só com os atletas brasileiros, mas com todos os esportistas. Agora, é só ficar na torcida para ele ser desarquivado e aprovado.